Narcisismo

Por Psicologia em Arte - Luciane Brito em 02/08/2022
Narcisismo

Audio do texto:

"Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho"

 

Você possivelmente deve reconhecer esses versos, são parte da música Sampa de Caetano Veloso, que diga-se de passagem, uma belíssima composição. Mas o que será que me fez trazer esses versos para nosso encontro? Tem algum palpite? Mais uma vez vou unir música e psicologia, não de uma forma tão poética quanto o compositor, mas espero que tão instrutiva quanto.

O assunto hoje é Transtorno de Personalidade Narcisista; por transtorno de personalidade entende-se um grupo de doenças psiquiátricas cuja pessoa tem um padrão de pensamento e comportamento rígido e de difícil ajustamento. O termo Narcisismo foi criado por Freud (médico e também conhecido como o pai da Psicanálise), a partir do Mito Grego em que o personagem Narciso encanta-se pela imagem de si refletida num lago a ponto de não escutar a ninfa Eco por ele apaixonada, e assim é tragado pelas águas do lago. A partir daí estudos foram desenvolvidos a entender esse modelo em que o narcisista acredita ser sempre mais bonito, mais inteligente, melhor que os outros. O Transtorno de Personalidade Narcisista numa visão geral, refere-se a autoestima baixa, necessidade de admiração, fantasias de sucesso, beleza, sentimentos exagerados de auto importância. Ressaltando, ainda que uma pessoa tenha traços de narcisismo, isto não significa que ela seja diagnosticada com o transtorno da personalidade narcisista; para um diagnóstico preciso, faz-se necessário possuir a maior parte das características do transtorno e ser avaliado por profissional da área. O termo “narcisismo” no sentido leigo é sinônimo de egoísmo, e é devidamente empregado àquelas pessoas que se apropriam do pronome “eu” e fazem-se presente em todas as frases.

A criança a partir dos 3 anos de idade entra na fase egocêntrica e isto não quer dizer que ela não se coloca no lugar do outro e, sim que ainda não o sabe fazer; está na fase natural do desenvolvimento de querer mostrar que já cresceu e querer ser o centro da atenção. E num trabalho em rede: pais, responsáveis, educadores, a transição dessa fase se dará através da educação, disciplina, limite, investidos de afetividade; a partir dos 7 anos a criança já deve ter passado pelo processo da transição e estar na fase de “consciência do outro” e, justamente por isso que crianças com comportamentos egocêntricos não devem ser taxadas como narcisistas.

A Psicanálise por sua vez, traz um esclarecimento sobre o “ser egocêntrico”, é normal e aceitável nos jovens, mas ao estender-se a fase adulta significa falha de adaptação. Esclarecendo possíveis falhas: exigência exacerbada, superestimar as aptidões, ser invejoso, nada empático; no entanto apesar dessa demonstração de poder do convencimento, este adulto está quase sempre deprimido; daí o porquê do desajustamento. O referido transtorno é muito mais comum nos homens do que nas mulheres e, é de prevalência no adulto, já que na criança é pertinente ao processo do desenvolvimento.

As sensações e sentimentos por parte do narcisista o fazem ser refém do próprio comportamento, uma vez que passa a viver mais a ilusão do que a realidade, as pessoas com o transtorno narcisista dependem da consideração positiva do outro, não aceitam críticas e diante da contestação do desempenho empregado costumam se indispor.

A psicoterapia pode ajudar o narcisista a atenuar o sofrimento psíquico, a rever os comportamentos dele e então perceber-se de forma mais realista. O relacionamento com os outros tende a melhorar à medida que o narcisista desenvolve a compaixão, compreende que pode melhorar em algo, ainda que julgue que encontrou a perfeição; o grande trabalho da psicologia nestes casos é promover a reflexão a respeito de si mesmo com sinceridade, ampliando o ponto de vista até então imutável e impensadamente capaz de reconhecer seus erros.

Em dias atuais, em face a: comparação, concorrência, competitividade, a valorização do “ter” acima do “ser”, torna-se mais e mais comum a presença de comportamentos e traços narcisistas nas pessoas, a sociedade atual vive uma disputa constante onde ser o “maioral” parece ser o ponto de chegada de uma corrida disputadíssima. E assim dia a dia as relações interpessoais tornam-se precárias, desrespeitosas. Atente-se, pessoas com Transtorno Narcisista diagnosticado precisam de acompanhamento, pois sofrem consequências do desajustamento que vivem, sofrem as consequências do apaixonamento por si e, assim como Narciso tornam-se surdos e cegos às possibilidades ao redor. Pessoas que acham que é status explorarem o egocentrismo, que é o caminho da vitória apoiarem-se em comportamentos narcisistas e de forma consciente querem se colocar acima do próximo e julgam-se melhores a qualquer preço, inegavelmente essas pessoas estão adoecendo psiquicamente ou já adoeceram.

Preserve-se e construa relações de empatia e respeito consigo e com o próximo.

Saúde Mental, o bem mais precioso, que requer atenção, tratamento e zelo.

 

 

 

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