Não Naturalize O Que Pode Progredir

Por Psicologia em Arte - Luciane Brito em 15/02/2022
Não Naturalize O Que Pode Progredir

Áudio texto

 

O progresso parece ser o objetivo da humanidade, haja visto a célebre frase em nossa bandeira: “Ordem e Progresso”. No entanto, de qual progresso será que tem sido falado, o que cada cidadão busca como progresso? O dicionário define: Substantivo masculino – ação ou resultado de progredir; movimento para frente, avanço. Proponho uma reflexão sobre o progresso da humanidade, o tratamento humanizado não faz parte do progresso?

Talvez possa parecer piegas ou clichê falar em respeito ao próximo, empatia, direito de ir e vir. Mas a verdade, é que, sem a busca pelo desenvolvimento pessoal e a compreensão às diferenças humanas, o conceito de progresso gerará controvérsias.

Campanhas tais quais: “Ser diferente é legal”; “Ser diferente é normal”; “Viva sem preconceito – Aceite as diferenças”; “Todo corpo é de verão”; “Não é não” e tantas outras têm sido lançadas com o intuito de diminuir a distância entre as pessoas, distância essa causada pelas diferenças e que geram aumento da intolerância. Parece até que o assunto é novo e circunstancial e, por isso é preciso lançar campanhas, cartilhas, ministrar palestras, colar cartazes; porém é exatamente o contrário, fatos recorrentes de violência parecem mostrar o avanço da capacidade humana em acreditar que: - o poder exercido para subjugar o semelhante, o torna senhor do progresso.

Ainda que a mídia não tão raras vezes se utilize do sensacionalismo como forma de atrair atenção para seus serviços, não se pode negar que as notícias de intolerância, poder, violência, discriminação são recorrentes. E mais do que isso, são culturais!

No século XV começou o tráfico africano, com a chamada “escravidão negra”, onde a mão de obra negra era adquirida para a colonização das Américas; no século XVI no Brasil, por demanda portuguesa, a mão de obra negra era designada aos trabalhos braçais principalmente nas roças. Após banida há 2 séculos a escravidão, nos dias de hoje, a população negra ainda muito tem que lutar para ocupar o lugar que lhe pertence, ou seja, não ser discriminada pela cor da pele. E quando ocorrem situações de intolerância racial, a tendência do agressor é justificar com frases de desvalia; parece ser natural, já que um dia foi assim.

O Feminismo, é um Movimento de caráter político, filosófico e social, cuja finalidade é a igualdade entre homens e mulheres e, isso nada tem a ver com poder sobre o masculino, mas sobre abrir espaço para que o feminino não seja subjugado por gênero. Ainda nos dias de hoje se ouve falar com naturalidade que “ela deixou ele nervoso por isso apanhou”; “se ela não estivesse vestida assim, não teria sido assediada”.

Aceitação às diferenças parece ainda ser algo que levará tempo para que seja uma contenção à violência, seja a violência física, psicológica, sexual, verbal. Daí a importância das redes sociais de serviços mapearem a incidência e além de discutirem ações de intervenção, trabalharem em prol do cuidado e proteção social.

Enquanto isso, ainda pensando no progresso, vale a pena lembrar que o ser humano está em constante transformação, é um ser social e também interacionista, ao mesmo tempo que se transforma também transforma o meio em que vive. Essa é a melhor parte, ele aprende à medida que ensina, se desenvolve à medida que aprende. Então será que ainda faz sentido, o capacitismo, a gordofobia, a homofobia, a misoginia, a xenofobia e, os demais preconceitos?

LGBTQIAP+, é outro Movimento que vem ganhando força, defendendo a bandeira da inclusão e aceitação das pessoas LGBTQIA+. Apesar dos Debates Parlamentares sobre a cura gay, por sua vez, o Conselho Federal de Medicina e a OMS reconheceram a despatologização da homossexualidade; haja visto que atualmente as discussões sobre o assunto destacam-se em debates sociológicos. Mas a intolerância continua presente de diversas formas, principalmente em forma de violência. Se a aceitação ainda é questionável, o respeito não deve ser; as agressões ainda que não em sua maioria, são vistas com naturalidade, mesmo que viole a Lei dos Direitos Humanos.

A vida humana tem sido banalizada, acessibilidade é desconsiderada, adolescentes perdem suas vidas por causa de um tênis, crianças morrem de fome, a corrupção acontece de forma indiscriminada, famílias têm suas casas invadidas, idosos são abandonados, meios de transporte coletivos são destruídos dificultando o ir e vir dos cidadãos, o sistema educacional vai perdendo força. E assim, de tão recorrente as perdas, a intolerância, a violência, vão se repetindo com “certa” naturalidade e, não pode ser natural o que agride, o que fere, o que impede o progresso.

O psicólogo quando no exercício da função, através da escuta clínica, tem o papel de dar voz àquele que o procura, àquele que está em sofrimento, auxiliar na compreensão de si e das relações sociais; a exposição à determinadas situações podem desencadear sintomas, que a psicoterapia auxilia em como cada um lidará com eles. Assim como a psicologia clínica, a psicologia social tem uma contribuição gigantesca no que diz respeito ao progresso. O psicólogo social, tem como foco intervir no comportamento de grupos a contribuir na saúde mental de todos.

Faça sua parte, conecte-se consigo, busque o crescimento pessoal; pratique a empatia; diga não a qualquer tipo de violência; construa uma rede com ideias a favor do progresso, de forma que discutir ideias não seja um conflito e, principalmente...não aceite que o que fere, dói torne-se natural.

Comentários

  • Muito verdade todo esse "bilete"... Quest
    Iris
    17/02/2022
  • Texto perfeito, com uma mensagem verdadeira! Infelizmente estamos vivendo em uma sociedade com muita intoler
    Sonia
    28/03/2022
Aguarde..