Mamonas 25 Anos de Saudades

Por Guarumusic Notícias em 02/03/2021
Mamonas 25 Anos de Saudades

  Amigos comentam histórias curiosas sobre o passado da banda que conquistou o Brasil


por Juan Gonzalez  ( Texto original Revista Guarumusic)

 

A banda Mamonas Assassinas passou como meteoro na vida de milhões de brasileiros, que se encantaram com a irreverência do grupo na metade dos anos 90. O quinteto, formado por Dinho (vocal), Bento Hinoto (guitarra), Júlio Rasec (teclado), Samuel Reoli (baixo) e Sérgio Reoli (bateria), vendeu mais de 5 milhões de discos e fizeram shows em quase todos os estados do País.

Já se passaram vinte e cinco anos do dia em que ocorreu o acidente com o avião da banda, que se chocou na Serra da Cantareira e vitimou o jovem grupo guarulhense, em março de 1996. Eles voltavam do último show da turnê, realizado em Brasília, para tirar merecidas férias. O desastre interrompeu uma carreira de sucesso que tinha apenas começado e deixou desolados fãs, amigos e familiares.

A  Guarumusic presta homenagem ao grupo que levou o nome de Guarulhos para todo o Brasil e mostra histórias dos integrantes da banda contadas por amigos que conviveram com eles antes da fama.



Edu Vaskes -Ponte Aérea

A banda Ponte Aérea tocava covers nacionais e internacionais nos anos 80. Tinha como um dos fundadores Sérgio Reoli. Na época ele era o baixista do grupo, mas depois da saída do baterista ele decidiu assumir o posto. “O Sérgio falou do nada: ‘vou tocar bateria’. Semanas depois ele apareceu com uma bateria de latão que o pai dele tinha conseguido. Era de lata mesmo”, lembra o vocalista Edu Vasques. Ele comenta uma das qualidades de Sérgio que poucos conheciam. “O Sérgio tocava tudo. Acordeon, baixo, piano. Eu vi o Sérgio tocar rabeca. Quem é que toca rabeca?!”, indaga aos risos.

Após tocarem em alguns bares, o Ponte Aérea conseguiu certo reconhecimento e os integrantes decidiram registrar o nome da banda, mas sem sucesso. A banda de apoio da dupla Sá e Guarabyra já se chamava Ponte Aérea. “Eu nem sabia quem era Sá e Guarabyra. Eu gostava de Iron Maiden, Rush”, diz Edu. Tiveram que mudar de nome e entre várias sugestões ficaram na dúvida entre Octopus e Utopia. Ficou Utopia.

Banda dividida

Meses mais tarde Edu e Sérgio se desentenderam e a banda se dividiu. O lado de Edu ficou com o nome Octopus e o de Sérgio com Utopia, que logo virou um power trio, com a entrada de seu irmão Samuel, no baixo, e Alberto (Bento Hinoto), no vocal e na guitarra. Ainda assim, sempre se encontravam e tocavam juntos. Foi convidado para cantar a parte internacional de um show do Utopia na Freguesia do Ó, em São Paulo. “Cantei Sweet Child O’Mine, do Guns n’ Roses. Quando acabou a música eu disse no microfone: ‘Aqui nasce o Utopia’, e desci do palco.”

Edu lembra com admiração o período que conviveu com o amigo. “O Sérgio era o maior entusiasta da banda. Ele queria fazer sucesso. Não queria fazer outra coisa. A maior marca que ficou é acreditar no trabalho.”

 



Geraldo Celestino - O grande incentivador

O vereador Geraldo Celestino foi uma das pessoas que mais apoiou os Mamonas Assassinas. Foi ele quem patrocinou o primeiro disco do grupo, quando ainda se chamava Utopia. “Acompanhei eles na alegria e na tristeza.” Geraldo conheceu Dinho por meio de seu irmão Vado. Na época, início dos anos 90, a banda tocava em comícios promovidos por ele.

Celestino convidou Dinho para trabalhar em seu escritório político. Em 1994, candidatou-se a deputado estadual e fez 60 comícios. “O Dinho cantou em todos. O pessoal ia mais para ver o Dinho do que o candidato. No último comício do Parque Cecap o Dinho disse: ‘tenho uma surpresa’. Ele subiu no palco de camisolinha, calcinha e cantou Robocop Gay. Foi muito engraçado.”

Amizade

Mesmo depois do sucesso dos Mamonas Assassinas Geraldo manteve a amizade com Dinho. “Quando o Dinho voltava de viagem, eu ia para a casa dele”, conta. Ele lamenta que o amigo não tenha desfrutado o que conseguiu com o sucesso. “Ele não conseguia descansar. Era uma loucura. Ele ficou famoso, ficou bem de vida e não aproveitou. Ele só trabalhou. Era show quase todos os dias. Isso foi ganância dos empresários. Aquele show de Brasília não era para eles terem ido.”


Ayrton Senna

Quando o piloto Ayrton Senna morreu, em 1994, Dinho deixou o escritório para acompanhar o enterro. “O Dinho era fã número 1 do Ayrton Senna. Foi andando do Ibirapuera até o cemitério do Morumbi. Ele sumiu, e depois de dez dias apareceu no escritório de terno e gravata, achando que a gente ia mandar ele embora. Todos começaram a gargalhar porque ele estava muito engraçado. Daí o Dinho me disse: ‘Eu sou fã do Ayrton Senna. Tinha 50 mil pessoas no enterro dele. Vou fazer sucesso na minha vida, quando eu morrer você vai fazer o meu enterro e eu vou colocar mais de 100 mil pessoas lá’.” 

 





Roberto Estefano - Quase integrante!

Roberto Estefano, o Betão, conheceu a banda Utopia no festival do bar Perestroika, que ficava no Centro de Guarulhos. Ele então baterista da banda Chernobyl.

Ele conta que após uma briga o Utopia esteve prestes a acabar. “Teve uma briga na banda e me chamaram para tocar no lugar do Sérgio. Eu lembro que o Samuel chorava muito.” Mas ele conversou com os amigos e os convenceu de que tinham que continuar juntos. “Briga de banda é normal.”

Depois desse episódio, Betão foi convidado para tocar com eles novamente, mas desta vez como percussionista. “O Dinho falava que não tinha um negão na banda. Tem um japonês, um baiano. Falta um negão.” Ele conta que até tentou, mas logo desistiu. “Eles me deram uma bateria eletrônica e eu não conseguia fazer. Quem fazia era o Alberto (Bento). Eu não acertava tocar aquilo, daí não quis ficar.”

Insistentes

Depois de assinarem contrato com a gravadora, os Mamonas Assassinas foram para Los Angeles, nos EUA, para mixar o disco. Na volta dessa viagem procuraram Betão mais uma vez. “Quando eles voltaram dos EUA foram me buscar para que eu fosse roadie do Sérgio.” Betão sabia que o grupo começaria uma turnê de shows pelo país e declinou mais uma vez. Ele tinha se casado havia pouco tempo e isso pesou na sua decisão.

“Eles me chamaram várias vezes, mas não era para eu ter ido. Ainda não era a minha hora. Deus chamou os caras. Um dia a gente vai se encontrar.”

 




 

Zinho Byl -  Banda Chernobyl

A banda Chernobyl é contemporânea do Utopia. Sempre se encontravam em shows e festivais. “Tocamos no festival do bar Perestroika e fizemos amizade com o pessoal do Utopia. Era um power trio: Samuel, Sérgio e o Alberto (Bento). Empatamos em segundo”, lembra o baixista Zinho Byl. “Nessa época a gente tinha uma disputa do bem com o Utopia. Era uma disputa sadia, mas sempre querendo ser melhor que os caras, porque eles eram muito bons.”

                         Show no Thomeozão – 06/01 /1996

“Sábado de manhã. Minha filha, que tinha uns 6 anos na época e adorava os Mamonas, disse que tinha um cara me chamando no portão. Era o Sérgio”, conta Zinho. Ele foi, em nome dos Mamonas, convidar a Chernobyl para fazer a abertura do show, que seria realizado mais tarde no Ginásio Paschoal Thomeu (Thomeozão). O evento ficou famoso por conta do discurso inflamado de desabafo que Dinho fez, falando sobre os momentos difíceis e a falta de oportunidade para os artistas locais.

Convite aceito, partiram todos para o ginásio cheios de expectativas, mas os produtores do evento não queriam que a Chernobyl fizesse o show de abertura. Os integrantes dos Mamonas Assassinas ficaram indignados e exigiram que os amigos fizessem a abertura. “O Dinho ameaçou não tocar. Falou que a produtora ia ter que explicar para 20 mil pessoas que não ia ter show, porque se a Chernobyl não tocasse os Mamonas também não iriam tocar”, conta o músico Aldo Di Julho, vocalista da Chernobyl.

Produção e Mamonas entraram em acordo e a Chernobyl fez o encerramento do show. A abertura ficou por conta do Utopia, que eram os próprios Mamonas Assassinas.

 

 

Fabinho (ex Negritude Jr)- Samba e Rock

Fabinho Modesto foi baterista do grupo de pagode Negritude Jr, que fez muito sucesso nos anos 90. O que isso tem a ver com os Mamonas, afinal era uma banda de rock, não era? Poucos sabem, mas ele foi um dos responsáveis por ajudar a banda a chegar ao estrelato.

O irmão de Fabinho, DJ Mengo, discotecava na One Way, uma antiga casa noturna de Guarulhos. Dizia que ele precisava conhecer o Dinho do Utopia. Fabinho, no auge do sucesso com o Negritude Jr, lembra: “Fui prestigiar o meu irmão, conheci a Grace (irmã de Dinho) e fomos parar na casa deles. Logo o Dinho sacou o violão e começou a mostrar as músicas”. A partir desse momento ficaram amigos e o baterista passou a acompanhar e aconselhar a banda. “Sempre gostei de ajudar porque o novo não tem direção. Assim como eles, um dia eu também sonhei com o sucesso.” 

Ele compartilhava sua experiência com o meio artístico e tentava orientar as ações da banda. “Eu sabia que o Rick Bonadio iria ser diretor artístico da Virgin (gravadora) e gerenciaria a parte de rock. Daí falei pro Dinho gravar lá.” Depois de ter a fita demo pronta, Fabinho acionou o empresário João Augusto, da gravadora EMI. “Eu estava com moral porque tinha levado para ele o Soweto e o Exaltasamba. Falei que eu ia levar uma banda de rock, daí começaram a rir.” Foi o filho de João Augusto, Rafael, que convenceu o pai a apostar no quinteto guarulhense. Fabinho também participou da gravação do álbum, como percussionista, na música Lá Vem o Alemão.

Os mais próximos

Mesmo depois do sucesso, Fabinho continuou a aconselhar os amigos. Manteve relações mais 

próximas com Dinho e Júlio, de quem fala com carinho. “O Júlio era um menino especial, uma 

eterna criança, mas muito responsável. Ele era a consciência da banda. Falava pouco, mas 

quando falava, era incisivo.” Com ele, Fabinho conversava mais assuntos pessoais. “Ele virou 

artista e todos falavam o que ele queria ouvir. Eu não. Eu era amigo confidencial da vida dele. 

Isso me marcou.”
 

O aviso sobre o acidente

No dia do acidente Fabinho estava em um hotel no Rio de Janeiro, logo após o show do Negritude Jr . “Entraram no quarto o Netinho, Nenê e o Vaguininho e me acordaram. Eu pensei que pudesse ter feito algo de errado e eles iam me tirar da banda. Mas era para dar a notícia sobre a morte dos amigos. “O Netinho me disse: ‘O avião dos Mamonas se acidentou e morreu todo mundo. Não vai dar tempo para você chorar porque a família está lá em desespero’”, sugerindo que ele fosse amparar os familiares.

 

 

Auriel Filho amigo da adolescência

O escritor Auriel Filho conheceu Dinho na adolescência. Ele estudava no colégio Progresso e recebeu a tarefa de trazer uma banda para a festa de Halloween da escola, no final dos anos 80. Contatou alguns amigos para tocar, e surgiu então a indicação de Dinho para os vocais. “Fomos até a Vila Barros, onde ele morava, daí começamos a nossa amizade. Isso bem antes do Dinho entrar no Utopia”, relembra. “Como eu não tocava, participei apenas da montagem da banda.”

Depois disso passaram a frequentar os mesmos locais, em shows e festas da cidade. Auriel comenta que nesse tempo eles contavam moedas para comprar bebidas e que, depois do sucesso dos Mamonas, Dinho se lembrava desses episódios: “Cara! A gente dividia cachorro quente e hoje não tenho controle da grana que cai na minha conta.”

Vinte e cinco anos após a morte dos Mamonas Assassinas, Auriel destaca as qualidades do amigo Dinho. “Ele era muito alegre, e onde chegava cativava as pessoas. Eu sabia que ele ia fazer sucesso porque ele tinha muita fé em Deus e um brilho muito especial”, e complementa: “Eu, que acredito em outros planos, acho que aonde estiver, ele está bem.”

 

 

Rafael Reinholz - Além do tempo 

O empresário Rafael Reinholz tinha apenas três anos de idade quando os Mamonas Assassinas fizeram sucesso. Ele não tem lembranças dessa época. Os pais que lhe contaram que ele sempre pedia para ouvir o CD e que chorou muito quando eles partiram. Hoje com vinte e oito anos, tornou-se um dos maiores colecionadores de objetos relacionados à banda . A coleção inclui objetos pessoais como o histórico escolar do vocalista Dinho, fotos, roupas, ingressos de shows, vinil autografado da banda Utopia, singles raros como o de Robocop Gay, e até uma réplica da Brasília amarela. “Comecei a comprar pela internet e em sebos. Os itens que mais me atraem são roupas e objetos pessoais”, conta.

Participou de inúmeros encontros e tributos à banda aonde conheceu outros fanáticos por Mamonas. “Fiz grandes amigos por causa dos Mamonas”. Ele comenta que o perfil dos fãs que vão a esses eventos é cada vez mais jovem. “É comovente ver como o público da banda continua crescendo”. 

 

 

Guarulhos canta Mamonas

Em 2014 foi lançado o CD Guarulhos Canta Mamonas, coletânea com as músicas da banda em versões feitas por artistas da cidade. O projeto foi patrocinado pelo Fundo Municipal de Cultura de Guarulhos (Funcultura), e teve a produção assinada por Aldo Di Julho e Laila Fidelli da LA7even Produções.

A coletânea tem 10 faixas e conta com artistas como Chernobyl, Rubens Mello, Carbônica, Céllia Nascimento ,entre outros. Os destaques fica para a emocionante interpretação de Paula Rasec, irmã de Júlio, na música Pelados em Santos e a linda participação de Seu Ito (pai de Sérgio e Samuel) em um dueto com Paula Rasec na música Mundo Animal.

A ideia do projeto era que cada artista regravasse a música dos Mamonas com seu estilo e arranjo , prestando assim uma justa homenagem aos meninos de Guarulhos que encantaram todos com alegria. Mamonas Assassinas - 25 Anos de Saudades

 

 

 

 

 

Comentários

  • Eu me lembro como se fosse hoje aquele dia triste , e relembrar machuca , e todos nós sabemos que eles não iriam gostar de nos ver tristes Saudades eternas dos meninos de guarulhos!
    SANDRA ALVES TABOSA
    07/01/2024
Aguarde..