Que combinação é essa...sexo e drogas?
Chemsex refere-se ao uso de substâncias psicoativas antes ou durante as relações sexuais com o propósito de intensificar sensações. O surgimento desta prática data de 20 anos atrás, na busca não só pelo prazer sexual como também por um estado de euforia. A necessidade em sentir prazer, em querer ter prazer imediato e constantemente, ganha destaque como mais um dos problemas da sociedade moderna, além de preocupar a classe médica; tal prática já é tema de discussão e preocupação em saúde pública.
Além da busca pelo prazer e euforia, diversas outras razões são apresentadas pelos praticantes do chemsex, tais como: facilidade na relação de longa duração, desinibição à prática com múltiplos parceiros, baixa autoestima, falta de confiança, homofobia internalizada e práticas ousadas, para não dizer desafiadoras.
Diferentes são os tipos de substâncias existentes: depressoras, estimulantes ou perturbadoras do sistema nervoso central. Portanto, as substâncias usadas podem variar de acordo com o perfil da pessoa e até mesmo da motivação ao sexo químico, sendo mais comum o uso daquelas que atuam no cérebro promovendo uma maior liberação de neurotransmissores ligados à estimulação da sensação de prazer e relaxamento.
A alteração no estado mental sugere a redução e/ou desorganização da atividade cerebral, o que compromete a capacidade de senso crítico da pessoa. Daí o chemsex ser tão perigoso: as escolhas podem ser feitas sem a clara noção de risco. O sexo químico tem contribuído exponencialmente para o aumento no abuso das substâncias psicoativas e, por sua vez, ao risco aumentado de dependência. Além disso, o risco à saúde é real, já que costumam ser relações desprotegidas e também sem profilaxia.
O uso dessas substâncias pode levar a um ciclo vicioso e ilusório na busca por um sexo intenso e eufórico. Diante dos estudos realizados, raros são os praticantes de chemsex que não desenvolveram depressão e/ou ansiedade, acompanhadas da culpa após o cessar do efeito da substância.
Apesar de algumas controvérsias, a revolução sexual de 1960 foi um movimento social marcado pelas discussões acerca do consentimento nas relações, da diversidade sexual, da moralidade e das formas tradicionais de relacionamento. Esse movimento expandiu os olhares para fora das relações heterossexuais e monogâmicas. Ao longo dos anos, as discussões sobre o tema se intensificaram e se diversificaram, chegando aos dias atuais com o avanço das redes sociais, que facilitam os encontros e a desinibição à prática do sexo livre, contribuindo significativamente para o avanço do chemsex.
Mas os estudos mostram que os praticantes não se sentem tão livres assim para conversar abertamente sobre a prática. Poucos chegam espontaneamente aos grupos de apoio, pedem ajuda ou compartilham com alguém os danos e medos vivenciados. Apesar dos múltiplos canais acessíveis à informação, a busca por esclarecimentos e orientação ainda é muito tímida.
Vale dizer também que o chemsex não está segmentado, não é praticado por um único perfil, e além das motivações serem diversas, está presente em diferentes contextos no mundo todo. Além do anseio pelo prazer intenso e da alta performance, razões como preconceito, vulnerabilidade e rejeição — vivenciadas especialmente, mas não exclusivamente, pela população LGBTQIA+ — têm levado muitas pessoas ao sentimento de solidão e à evitação dos padrões sociais impostos. Com isso, as chances de não mais se interessarem pelo sexo sóbrio aumentam, uma vez que o sexo sob efeito de substâncias permite uma fuga da realidade dos sofrimentos que permeiam suas vidas.
Daí vale a reflexão: o chemsex seria um “passar o pano” para problemas emocionais?
Portanto, profissionais bem preparados fazem a diferença quando são procurados. O desconhecimento da prática e a falta de informação podem gerar surpresa no profissional, que, ainda que sem intenção, pode acabar reforçando o sentimento de rejeição. O suporte psicológico, seja em grupo de apoio ou em psicoterapia individual, é essencial para a autocompreensão, o enfrentamento das dores emocionais e das batalhas internas. Proporcionar um ambiente acolhedor, respeitoso e com escuta ativa é fundamental nesse processo.