Mais uma vez venho aqui falar a respeito de tecnologia, ou melhor, do resultado que estudos têm apontado sobre o volume de informação disponibilizado pelo avanço tecnológico. O uso indiscriminado dos aparelhos eletrônicos, notebooks, smartphones, pode estar associado ao esquecimento de atividades e assuntos do dia a dia, bem como o esquecimento de informações que são armazenadas nos dispositivos digitais e internet. Delegar aos aparelhos a realização das ações não permite que o cérebro faça conexões, o que leva à vulnerabilidade em confiar no próprio cérebro. Já a confiança que se atribui à inteligência das redes tem tirado o exercício de pensar. A memória não é exercitada e lapsos de atenção estão se tornando cada vez mais comuns. O processo de memorização ocorre através de conexões entre os neurônios, que são as sinapses, e, para que aconteça, é necessário prestar atenção no que ouve e/ou vê. O fato é que a quantidade de informações disponibilizadas pelas mídias digitais e a velocidade com que essas informações são reportadas ao cérebro ocasionam perda na capacidade de armazenamento e, consequentemente, impedem a consolidação da memória de longo prazo. Isto se dá pela forma como o cérebro é utilizado. As leituras digitais não trazem linha de corte, é uma rolagem infinita, enquanto que o cérebro precisa de tempo para associar e fixar a informação. Assim, a capacidade de memorização é reduzida e a informação não se torna conhecimento.
Segundo Pedrosa (2023), as crianças são as mais afetadas com o uso das telas, porque estão em plena fase de desenvolvimento cerebral e cognitivo. Há pesquisas que indicam a relação entre o excesso de telas e a diminuição do QI infantil. Além disso, a estimulação das telas leva à falta de sono, o que também contribui para o desenvolvimento prejudicado.
Um estudo realizado pela Kaspersky Lab revelou que, em uma amostra de 6000 entrevistas ao redor do mundo, 57% dos entrevistados, a partir de 16 anos, ao serem apresentados a uma questão, buscaram por uma resposta sozinhos, e 36% deste grupo recorreu imediatamente à internet. A taxa aumenta para 40% no grupo de pessoas com 45 anos ou mais, e quase um quarto dos entrevistados (24%) confessa esquecer uma informação após utilizá-la.
O uso excessivo das telas causa prejuízos não só cognitivos, mas também biológicos e sociais. Biológicos como sudorese, taquicardia, que podem surgir através do desencadeamento do vício do uso dos dispositivos (nomofobia). Sociais como o declínio na habilidade de relacionar-se com outras pessoas, fruto da reclusão.
Sabemos que a internet e os dispositivos digitais têm grande utilidade e promovem muita facilidade, mas é necessário dosar o uso e intercalar a vida digital com a vida real. Atividades como aprender/tocar um instrumento musical, exercícios de coordenação física e motora, conversar pessoalmente com alguém, dançar, jogos de palavras e memorização, leitura de livros físicos, entre outros, são indicativos para ampliar e reabilitar a capacidade do cérebro, pois exercitam o foco e a concentração.
Referência:
PEDROSA, Raquel. Amnésia Digital. Centro Universitário Tiradentes, 2023.